quarta-feira, 17 de abril de 2019

     Ninguém é forte o tempo todo.
     Parecemos fortes, nos fingimos de fortes, até que acabamos acreditando que somos fortes.
     Lá no fundo, cedo ou tarde, um buraco no peito aparece. Um vazio, uma ausência de si mesmo.
     Algo se apossou de mim.
     Mas sei que não é algo meu.
     Não não são da minha natureza o desânimo, o desassossego. 
     Se aproveitam dos breves momentos em que se abre uma brecha de fragilidade, se apossam do meu peito, mas têm os dias contados. Não me identifico com eles. Logo passa, e novamente tomo posse de mim mesma.
     Processo de luto?
     Que coisa complexa é isso, com esse nome que parece culpar quem se foi por ter-se ido. Não, não é um processo de luto. É uma total inversão de todas as prioridades, de todas as seguranças, de tudo o que se acreditava "saber como lidar". É a constatação de que não temos nada sob controle, que nada nos pertence, que é tudo passageiro, frágil, mutável... É um ultimato ao ego. "O que fazes aqui, ego? Nada aqui te pertence".
É lição preciosa de humildade. É oportunidade preciosa de se reformar, em pensamentos, em atitudes. É um convite a olhar no espelho e ver o que realmente há por trás da nossa imagem.
É um convite a sair brevemente da Matrix, e ver com os olhos do espírito a realidade paralela, num alerta à imperiosidade de desapego de tudo o que não é essencial na vida.

     Então eis o que sobra: o amor. Sobram os afetos, os amigos, o bem que se sente ao fazer o bem, o bem que se espalha e que se recebe em retorno. E isso então nos preenche e nos devolve a identidade. 
🙏