"Que não me censurem os Deuses,
Pois divino é o que se sente
Quando as peles se tocam,
Feito febre, coisa ardente,
E eu também chamo desejo de amor,
também chamo paixão de tesão.
Das portas que abri na mente,
Muitas vão direto de encontro ao coração.
Liberam o corpo pagão,
Fazendo a alma dançar dentro do peito,
Rodopiando ao som de harpas em uníssono,
Como nas orgias de vinho tinto,
Condenadas há séculos atrás,,,
A mim sempre pareceram alegres,
Inocentes, e de um riso santo!
Que a mente jamais se perturbe
Com os impulsos que não se contêem
Quando a alma teima em não descansar em paz!
Até que um coro, em mil vozes, aplaude forte
A cor pura das luzes de quando os corpos se tocam,
Transparentes,
De forma assim tão natural, tão quente,
Que os anjos do alto consentem,
Sem nenhuma objeção:
Que se faça do amor dos corpos
Imaculada canção!"
(1991)
...
Sublimei a carne.
Para que ela desperte, não é preciso nenhuma fúria insana de hormônios. Não é preciso fantasias, nem artifícios. Dispenso lisonjas, galanteios baratos. Fujo da carne nova e de seus caprichos.
Para que ela desperte, há que me tocar o coração em primeiro lugar. Se me tocar o coração eu me inflamo, tal qual brasa num sopro de ar. E palavras, então, tornam-se supérfluas. Basta-me a comunhão verdadeira.
Guardo as pérolas, já que os porcos não lhes apreciam o valor.
Pérolas gestadas cuidadosamente em ostras no fundo escuro do mar de minha alma.